A LUA E O QUEIJO : A VILA OPERÁRIA

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

A VILA OPERÁRIA




Desde que me lembro, o trem sempre fez parte de minha vida. De minha vida, da vida de minha família e de minha cidade. 
Engraçado eh que o trem, desde que nasci e até então, está sempre passando na minha frente. E não importa o rumo que a vida me leve, o trem estará lá, sempre fazendo parte do meu destino. E tudo em minha vida começou por causa do trem. Este trem que leva lembranças de quem parte e deixa saudades de quem fica. Como eu havia dito, a magia do trem pode estar no fato dele poder seguir apenas um caminho, nunca virar para esquerda ou direita, nunca poder pegar atalhos e nunca ficará na contra-mão.


Até onde eu sei, Cortez,  meu bisavô, por parte de pai, morava na Espanha e fugindo da perseguição que estavam fazendo aos Judeus, fez como todos os Judeus estavam fazendo, foi para outro país. Mas antes de partirem, combinaram que cada família acrescentaria um nome de fruta ou árvore frutífera ao da família, para assim se identificarem quando a perseguição acabasse. E meu bisavô acrescentou ao seu nome e de sua família o sobrenome Pereira. E partiu para Portugal com sua família.


Meu avô, depois de adulto, e juntamente com três irmãos, deixa Portugal para viver definitivamente no Brasil. Aqui eles deixam de usar o sobrenome Pereira, e meu avô passa a assinar apenas Cândido Cortez. Foi para Tiradentes, conheceu minha avó que era professora, casaram e foram morar em Ribeirão Vermelho. Meu avô foi trabalhar na Turma de Pontes da Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM). Meu avô tinha casa grande, terreno, animais e dinheiro guardado no colchão, como era costume fazer na época. Mas a grande enchente de 1.906 que aconteceu em Ribeirão Vermelho, levou tudo de meu avô. A casa, as criações e todo seu dinheiro. Desolado, meu avô deixa Ribeirão Vermelho e muda para Divinópolis para trabalhar na mesma Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM). 


A Estrada de Ferro Oeste de Minas, para construir suas oficinas em Divinópolis, fez aterro em um grande terreno ao sul da cidade, próximo ao Rio Itapecerica. Neste terreno aterrado a ferrovia construiu as oficinas de locomotivas e vagões. Também construiu uma Vila Operária para seus funcionários, dentro de seu próprio terreno. Esta Vila Operária tinha três Ruas, os nomes das ruas eram as iniciais da Rede Mineira de Viação (RMV) da qual pertencia a Estrada de Ferro Oeste de Minas. Não havia muros cercando a Vila Operária das oficinas. Assim, a gente podia circular por dentro das oficinas.
Nesta vila operária também foi construída a Estação de trem, uma igreja, (Nossa Senhora da Conceição) uma farmácia, uma escola, um armazém, um campo de futebol e um posto médico. Tudo para atender os funcionários da ferrovia e suas famílias. A estação de trem ficava no final da rua R, que tinha casas apenas do  lado esquerdo, pois do lado direto passava a linha do trem que ia até a estação. Eu nasci nesta Rua R, na casa de número 01, que tinha os trilhos da ferrovia passando em frente a nossa casa, do outro lado da rua. Este lado da rua onde os trilhos passavam era chamado de O Canto da Linha.
Eu cresci vendo o trem passar todos os dias em frente a minha casa.








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