Eu tenho 17 irmãos. Isso mesmo, 17. Somos vinte pessoas morando em uma mesma casa. Aquela casa da Rua R de onde posso ver o trem passar no canto da linha todos os dias.
A princípio a casa não tinha sido feita para vinte pessoas morarem. Na verdade na verdade, ela tinha sido feita para um engenheiro da ferrovia, mas ele não gostou da casa. Então passaram ela para meu pai. Ela teve que ser reformada duas vezes. Isso porque meus pais não paravam de ter filhos. A ferrovia então aumentava o número de quartos, mas foi até o limite de cinco quartos. Isso na Vila onde agente morava era considerado um casarão.
Todas as outras casas da Vila Operária tinha seus banheiros nos fundos do quintal. Nossa casa era a única que tinha o banheiro dentro da casa, isto porque ela tinha sido feita para o Engenheiro que administrava as oficinas em Divinópolis. Este banheiro era grande. A gente tampava o ralinho com pano e abria o chuveiro e deixava o piso, que era rebaixado, encher de água e assim, a gente fazia nossa piscina dentro banheiro. Era nosso divertimento em dias de calor e quando meu pai deixava, claro.
A água que abastecia as casas da Vila Operária vinha do poço artesiano que a ferrovia tinha perfurado. A energia vinha de uma pequena usina que a Ferrovia construíra no Rio Itapecerica, onde havia umas corredeiras. As ruas da Vila tinham, fincados no meio delas, trilhos de ferrovia servindo de postes onde estavam as lâmpadas para iluminação. Isso era suficiente para que a gente pudesse ficar na rua depois que escurecesse. Claro, no máximo até as oito horas da noite, quando minha mãe gritava da porta de nossa casa, para que a gente entrasse pra dentro porque já estava tarde.
Tomar banho era uma diversão para nós que éramos menores. Meus pais e irmãos mais velhos tomavam banho de chuveiro. A fila era grande. Mas nós que ainda era criança, tomava banho em uma grande bacia de alumínio que minha mãe colocava água quente e depois água fria para temperar a água. Assim, nesta mesma água, todos os cincos últimos filhos tomavam banho. Na verdade na verdade, eu, que era o último filho, acho que me sujava na água que já estava amarela devido a poeira da rua que ficava grudada em nossa pele.
Na hora de dormir, meus pais tinham o quarto deles, mas nós, seus 18 filhos tínhamos que se virar nos quatro quartos restantes. Meus irmãos mais velhos não aceitavam que um irmão dormisse na mesma cama que eles. Assim, dois quartos eram para seis irmãos, os outros dois quartos para os doze restantes. E na nossa casa, quanto mais novo, menos privilégios. Assim, minha cama ficava debaixo da mesa da copa. Esta mesa era grande e larga. Minha mãe fazia minha cama debaixo desta mesa quase todos os dias, porque algumas vezes ela nem desmanchava a cama. Já deixava lá pronta para eu dormir.
Era assim que a gente vivia nesta grande casa, virada para o por do sol e de frente para a linha do trem.
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