O armazém da Ferrovia que tem aqui na Vila só vende para seus funcionários. O pagamento das compras eh descontado de seus salários, quando eles recebem.
Isto porque os funcionários, as vezes, ficavam seis meses sem receberem salários. Mas o armazém continuava vendendo as mercadorias todos os meses. A medida que os funcionários vão recebendo os salários atrasados, eles vão descontando o que devem.
Meu pai fez um carrinho de madeira, com roda de madeira, nesta roda meu pai prendia uma lona de pneu para proteger a madeira, e um varal para puxar. Ele tinha um metro por dois aproximadamente, fora o varal que deveria ter uns três metros. Com este carrinho a gente ia fazer as compras do mês no armazém da ferrovia. E era muito legal ir fazer estas compras. Mesmo o armazém estando bem próximo de nossa casa.
Meu pai comprava um saco de sessenta quilos de arroz, um saco de sessenta quilos de açúcar, trinta quilos de feijão, carne seca, gordura de coco e várias outras coisas. Tudo que estava na lista que minha mãe fazia. Nem sempre tinha tudo que ela precisava. Na época do natal, era neste armazém que minha mãe comprava os presentes e brinquedos para nós. Também ali que a gente comprava o material escolar no início do ano. Também neste armazém que minha mãe comprava as roupas que todos nós usávamos diariamente.
Na nossa casa, meu pai fez um balcão de madeira. Tipo aqueles do armazém da ferrovia. Este balcão tinha três repartições. Duas grandes e uma pequena. Nas repartições grandes ele colocava os sessenta quilos de arroz em uma e sessenta quilos de açúcar em outra. Na menor ele colocava os trinta quilos de feijão. Cabiam certinho. Este arroz, açúcar e feijão duravam um mês certinho. Terminavam sempre no dia de fazer compras. As vezes o feijão até acabava antes, mas comprar novamente só na data permitida.
Muitas vezes, a noite, a gente ficava brincando com este carrinho que meu pai fez para fazer compras. Com dois irmãos meu dentro do carrinho, dois empurrando e eu ou outro no varal, a gente corria o máximo que podia e quem estava no varal pulava e o varal levantava, carregando a pessoa ali pendurada. O carrinho ia arrastando a traseira até parar. E a gente fazia tudo outra vez. E ia revezando quem ficaria no varal do carrinho.
O legal de fazer compras no armazém da Ferrovia era a gente tentar puxar o carrinho com todo aquele peso. A gente até conseguia um pouco, mas depois não conseguia tirar o carrinho do lugar. Meu pai então dava um tapa na cabeça da gente e dizia: Força, não eh homem não? Ai ele ajudava a empurrar e a gente chegava até em casa com as compras.
O armazém da ferrovia marcou a infância de todos da vila. Seja pelas compras de mantimentos, seja pelas roupas, seja pelos materiais escolares, seja pelos presentes de natal, que era sempre os mesmos, todos os anos.
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