A LUA E O QUEIJO : DE BICICLETA NA LINHA DO TREM

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

DE BICICLETA NA LINHA DO TREM




Meu pai comprou uma bicicleta para ir nas pescarias. E pescar era o que ele mais gostava de fazer como lazer. 
E assim, nos locais mais próximos de nossa cidade, meu pai ia com algum amigo, Geralmente o Joaquim Leite, seu irmão Joaquim Cortez, um de meus irmãos mais velhos e claro, alguns dos filhos pequenos, nas pescarias. Ele sempre levava um ou dois filhos pequenos, dizendo que era para que nossa mãe tivesse um pouco de sossego. Certamente eu sempre era um dos dois filhos que ia com meu pai. Assim eu ia no quadro da bicicleta do meu irmão e, se outro irmão menor fosse, ia na bicicleta do meu pai. Quando minha mãe ia também, ela que ia na bicicleta de meu pai.


O destino era um lugar chamado 48. Neste local a prefeitura da cidade tinha feito uma represa, mas uma enchente a derrubou, deixando os destroços dela no meio do rio. Ir de bicicleta e carregando alguém por uma estrada, com seus morros, poeira ou lama, não devia ser fácil. Era por isso que meu pai sempre ia pela linha do trem. Pela linha do trem não tinha morros, o caminho era muito bom, porque a ferrovia sempre o mantinha limpo. E meu pai sempre parava algumas vezes, dizendo que era para a gente Esticar Perna. Eu não entendia o que seria isso, pois minha perna não encolhia enquanto andava de bicicleta.


Todas as vezes quando eu descia do quadro da bicicleta, quando eles paravam para o tal de Esticar as pernas, minhas pernas ficavam com formiguinhas. Formiguinhas neste caso, era que as pernas ficavam estranhas, como se não estivessem ali e eu quase não conseguia ficar de pé. Sorte minha que essas formiguinhas, como meu pai dizia ser o que eu sentia, passavam bem rápido. Mas eu sabia que ia sentir isso novamente quando eu descesse outra vez da bicicleta. 


Em uma destas paradas, acho que meu pai parava sempre nos mesmos lugares, a gente podia ver ao longe, uma igrejinha igual a que tinha na nossa Vila Operária. Eu sempre perguntava se era a nossa igreja, mas meu pai fazia questão de deixar a gente na dúvida. Ele nunca disse se era ou não a igreja da nossa Vila Operária. Meu pai ficava mandando a gente olhar direito para ter certeza. Eu tinha certeza que era nossa igreja, naquela época.
Quando a gente chegava no 48, era um alívio, porque eu já estava cansado de ficar no quadro da bicicleta. Meu pai, seu amigo e meu tio iam logo pescar. Meu irmão ia nadar no rio. Eu só queria o lanche que minha mãe fazia pra gente. Cada um tinha o seu. Meu pai falava para meu irmão me vigiar e não deixar eu entrar no rio. Mas tudo que eu queria naquele momento era o lanche. Primeiro porque não sabia pescar, segundo porque não sabia nadar e a correnteza do rio era muito forte. O rio era muito largo, mas meu irmão mais velho atravessava este rio nadando e voltava como se fosse fácil.
No fim da tarde a gente já estava de volta na linha do trem rumo a nossa casa. Estas viagens de bicicleta pela linha do trem nas pescarias de meu pai, não durou muito tempo, porque segundo meu pai, 48 tinha ficado ruim para peixe.

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