A LUA E O QUEIJO : EU, MEU IRMÃO MARCELO E MINHA BICICLETA PEUGEOT FRANCESA NA LINHA DO TREM

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

EU, MEU IRMÃO MARCELO E MINHA BICICLETA PEUGEOT FRANCESA NA LINHA DO TREM




Quando as pessoas começam a trabalhar a primeira coisa que compram eh um carro. Também, eh a maior paixão do ser humano desde que foi inventado.


Quando consegui meu primeiro emprego de carteira assinada, comprei uma bicicleta em 36 parcelas. Isso mesmo, uma bicicleta Peugeot francesa. Eu nem pensava em ter carro nesta época, afinal, tinha apenas doze anos e bicicleta era a paixão de qualquer garoto de minha idade. 
Minha bicicleta Peugeot era diferente das que eu estava acostumado a ver. Como a Caloi ou Monark. Ela era mais bonita, mais alta e os freios eram contra-pedal.


Tive dificuldades em andar em minha bicicleta Peugeot no início devido a altura que era. Para parar tinha que ser encostando em um muro. Andar em uma bicicleta mais alta não foi difícil acostumar, o maior problema era que minha Peugeot tinha os freios contra-pedal. Eu não estava acostumado com este tipo de freio, então, nem sempre conseguia parar onde devia. As vezes, quando lembrava que para frear a minha Peugeot era só tocar o pedal para trás, já era tarde demais.


Com isso tive inúmeras quedas com minha Peugeot. Quedas ao parar, quedas por não conseguir parar, quedas descendo os morros e não lembrar de tocar os pedais para trás e várias outras. Com isso tiver vários acidentes com minha Peugeot. Quebrei os braços várias vezes, a clavícula, pés, dedos e a perna duas vezes. Mas claro que não fui todos de uma vez. Pensando bem, teve uma vez que não consegui frear minha Peugeot em um cruzamento e acabei atropelando um carro e quebrei vários ossos de uma vez só. Mas isso eh uma outra história.


Eu poderia dizer que tudo isso que aconteceu comigo tinha tornado minha bicicleta Peugeot inesquecível. Isso, apesar das dores, ossos e dentes quebrados eh até legal de lembrar. Mas o que tornou minha Peugeot inesquecível foi uma viagem que decidi fazer com minha Peugeot de minha cidade até Marilândia, pela linha do trem. A linha do trem passa na porta de nossa casa, era só seguir a linha. Sem morros, sem trânsito, claro que se o trem viesse, e aconteceu dele vir mesmo, era só ficar o mais longe da linha possível. Mas tinha muito espaço na beira da linha para a gente ficar enquanto o trem passava.
Programei a viagem para sair sábado de manhã. Eu não trabalhava sábado. Chamei meu irmão Marcelo para ir comigo. Dois colegas de trabalho, sabendo desta viagem de bicicleta pela linha do trem, disse que viriam comigo. Na sexta feira a noite eu fiz quatro lanches, dois para mim e dois para meu irmão Marcelo. Imaginei que uma viagem desta iria consumir muita energia e a gente precisava se alimentar na viagem. Sábado de manhã saímos nós quatro pela linha do trem em direção a Marilândia.


A ida foi um espetáculo. Paisagens deslumbrantes a perder de vista, sempre encontramos vez ou outra uma casinha próxima a linha do trem que lembram paisagens de cinema, pontes de ferro bem altas que para atravessar dava até medo, as vezes tinha muito mato na beira da linha e era preciso empurrar a bicicleta. Encontramos com um boi pastando na beira da linha e ficamos com medo de passar por ele, mas ele estava com mais medo da gente. Então foi tranquilo. Muita conversa e risadas pelo caminho. Cansamos um pouco, mas enfim chegamos na estação de Marilândia onde sentamos para descansar. 


Marilândia eh um distrito de Itapecerica muito antigo e que tem uma igreja muita antiga e famosa. Não fomos até lá para ver. Eu admirava a paisagem e quando meus colegas falaram em voltar, eu disse que ia lanchar primeiro. Mas não tinha mais lanche. Meu irmão comeu os lanches dele e meus colegas comeram os meus. Eles não tinha trago lanches e achou que aqueles dois eram para eles. Assim eles estavam bem para fazer a viagem de volta e eu, com fome e sem forças.


Na volta, pedalando pela linha do trem, fui ficando sem forças, pois não tinha comido nada. Assim meus colegas foram se distanciando de mim, me deixando para trás. Meu irmão Marcelo ficou comigo. Não muito longe de Divinópolis eu não tinha mais forças para pedalar e então parei e deitei nas pedras da linha do trem. Não conseguia me levantar. Tinha perdido totalmente minhas forças. Com algumas moedas que eu tinha no bolso, pedi meu irmão para ir até um bar que tinha não muito distante dali, próximo a linha, em um lugar chamado 48. Pedi meu irmão para comprar um guaraná.
Meu irmão foi e trouxe o guaraná para mim. Eu sabia que açúcar dava energia rapidamente. Não durava muito, mas seria suficiente para eu conseguir chegar em casa. Assim, pouco tempo depois que tomei o guaraná, partimos novamente. Quando eu e meu irmão Marcelo chegamos em Divinópolis, em nossa casa, já eram mais de três horas da tarde. Meus colegas tinham chegado pouco depois das onze horas. Meus pais e os vizinhos já estavam preocupados com nossa demora. 


Pouco tempo depois desta aventura, dei minha bicicleta Peugeot para meu irmão Marcelo. E nunca mais comprei outra. Não que eu não pudesse ou quisesse comprar, mas descobri que andar de bicicleta era só uma fase da vida que vem, passa, vai embora e não volta mais. Ou talvez volte, quando em uma certa idade o médicos recomendam andar de bicicleta.


Por enquanto fica esta aventura inesquecível que vivi com minha bicicleta Peugeot, meu irmão Marcelo, pelas linhas do trem.


Conheça o distrito de Marilândia / Itapecerica / nas Minas Gerais 




































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